terça-feira, 26 de outubro de 2010

Palhetas Rico Reserve 3.0 para Sax Soprano














Assim que recebi uma caixa de palhetas Rico Reserve 3.0 para sax soprano, percebi como são idênticas as características entre elas e as de sax alto, que já havia experimentado. Além disso, na mesma caixa ( a de soprano 3.0 ), a semelhança entre as palhetas também é muito grande.
A Rico Reserve 3.0 é bastante confortável, tem muito corpo de sonoridade e mantém perfeitamente a afinação, em um instrumento já conhecido por ser difícil nesse aspecto.
São fabricadas  a partir dos nós intermediários da parte inferior da cana, onde a densidade é maior. Somente 5% das palhetas passa pelas normas de qualidade para se tornar a Reserve . Possuem corte francês, feito por lâminas de diamante, que não perdem o fio após sucessivos cortes. As palhetas ainda vêm protegidas em sua caixa, por um sistema de controle de umidade que as mantêm  em boas condições desde a fábrica até o consumidor final e ajuda a não “ondular” a ponta das palhetas após o uso, de um dia para o outro, por exemplo.
Procurei tocar em todas as 5 palhetas para poder fazer uma análise segura. Coloquei-as em um copo com água por cerca de 5 minutos e fui tocando um pouco com cada uma. Sempre exemplos musicais idênticos, exigindo um pouco mais nos saltos longos de intervalos e variação de dinâmica.
Fiz o teste com um afinador de campana e o resultado foi muito bom. Variações mínimas no ponteiro do afinador, dentro da normalidade.
O timbre também é muito bom, já conhecia as Rico Reseve para sax alto e, as de soprano seguiram na mesma linha. Som claro, sem interferências ou sobra de ar, em todas as 5 palhetas. Soam bem para popular ou erudito. Testei com uma boquilha Morgan ( mais fechada ) e com a boquilha que sempre uso para popular, uma Norberto modelo Dave Liebman, bem aberta, além de uma Selmer de metal e a Vandoren S25. Em todos os casos, a afinação se manteve boa.
Utilizei alguns palybacks e toquei em uníssono, obtendo um ótimo resultado.
Continuei os testes e notei que a durabilidade também é uma característica interessante, além de perceber que o sistema de controle de umidade funciona como descrito na embalagem. As pontas das palhetas não “ondularam”  e estas ficaram prontas para o uso na próxima vez.
Gravei com o soprano, um arranjo com trompete com surdina e flugelhorn e a afinação estava impecável, além da qualidade do timbre.
Trata-se de uma palheta muito equilibrada e de boa durabilidade, além de timbre e afinação, com uma embalagem e sistema de conservação perfeitos.

Texto publicado na revista Sax&Metais

terça-feira, 12 de outubro de 2010

A Arte do "Refacing"

A boquilha ideal talvez seja o equipamento mais difícil que um saxofonista poderá encontrar.
Desde o tipo de material (massa, metal, ou madeira), até o estilo da câmara, passando pelo "baffle" (rampa)...
São tantas opções que, por vezes, ficamos confusos, tornando ainda mais dura a escolha correta.
Hoje em dia (desde o meio da década de 90 do século passado), nota-se um retorno ao som "escuro", com boquilhas de câmara larga, podendo-se destacar as antigas Otto Link, fabricadas entre as décadas de 30 e 70 do século XX, além das Dukoff em massa e metal, dos anos 1950, ainda produzidas em Hollywood, antes da mudança da fábrica para Fort Lauderdale, na Flórida, onde, até hoje são produzidas, porém, com design externo, material e câmara completamente distintos das versões mais antigas.
Muitas dessas boquilhas possuem o padrão de abertura seguindo os princípios antigos, ou seja, bastante fechadas, se comparadas ao que utiliza-se atualmente. O timbre é aquele que sempre nos despertou interesse, porém, ao tocar em uma delas, percebemos que a abertura é muito pequena. Era comum até os anos 1950 referir-se ao número 5 como "very open" (muito aberto)!






Existe uma arte, conhecida em inglês como "refacing" (o que se pode aproximar ao português como sendo uma reconstrução de face), muito pouco difundida e conhecida entre os saxofonistas, que, se praticada por um grande luthier (ou artista), resolve definitivamente qualquer problema em relação a abertura, mesa, calibragem de trilhos laterais, etc.








Um bom "refacing" não deve alterar as características originais da boquilha, ao contrário, deve fazer sobressair aquilo que a fez famosa, porém, adaptando-a ao gosto pessoal do músico, podendo também, acrescentar projeção e volume ao som.







A medida de abertura se dá em milímetros, o que, depois, é convertido naquela numeração que conhecemos mais, entre 5 e 10, por exemplo. Entretanto, nem sempre aquilo que está marcado no corpo da boquilha corresponde ao que deveria ser o número correto a ser estampado. É aí que entra o serviço de um luthier experiente.
No Brasil, temos o Norberto como melhor opção para esse fim. Tive oportunidade de experimentar boquilhas "mexidas" por figuras conhecidas internacionalmente, como Brian Powel, Johannes Gerber e Dave Guardala. Posso garantir que o trabalho do Norberto em nada deixa a desejar, frente aos estrangeiros, mas ainda não é popular no nosso país.
O "refacing" é a melhor opção para chegar ao timbre desejado, ou mesmo consertar uma boquilha quase "perdida", por quedas, impactos em geral. Além disso, podemos adquirir uma Otto Link atual e "transformá-la" em uma antiga, sempre deixando claro que não é qualquer pessoa que está apta a realizar esse tipo de serviço, pois, se mal executado, pode estragar definitivamente a boquilha.

Links relacionados:

http://www.jgerber.com/

http://www.mojomouthpiecework.com/

http://www.ezmpc.com/

Contato Norberto:

+55(11)20632186

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

RESPIRAÇÃO CIRCULAR OU CONTÍNUA

Um assunto muito discutido entre os instrumentistas de sopro, porém ainda pouco explorado e divulgado. Assim podemos definir a chamada respiração contínua ou circular.
Talvez o ícone dessa técnica na música popular mais atual seja mesmo o Kenny G, que entrou para o Guinness Book ao sustentar uma mesma nota por um período ultra prolongado durante um show ao vivo. Além dele, temos Harry Carney, sax barítono da lendária orquestra de Duke Ellington, que já utilizava o recurso há décadas.
Instrumentistas de sopro eruditos já conhecem e dominam há muito tempo esse artifício, executando peças como Moto Perpetuo (Paganini), Caprice (Eugene Bozza), entre outras, sem parar para respirar em momento algum, atraindo a atenção e admiração de platéias mundo afora.
A técnica consiste em sustentar a coluna de ar sem interrupções entre a emissão das notas e uma próxima repiração, mantendo uma nota ou trecho de notas sem qualquer variação durante a execução, sem a necessidade de parar para respirar e continuar, como normalmente ocorre.
Uma boa maneira para iniciar o estudo é utilizar um copo com água pela metade e um canudo mais grosso. Não há necessidade de utilizar o instrumento nessa primeira fase.
Iniciamos a prática apenas soprando com o canudo para observar a formação das bolhas na água, que serão muito importantes para saber se a técnica está sendo bem aplicada. (as bolhas não devem parar enquanto sopramos com o canudo e ao inspirar)
Naturalmente, evitamos inflar demasiadamente as bochechas ao praticar o instrumento, porém, nesse caso, será extremamente necessário utilizá-las como uma espécie de concha para armazenar o ar que vem pelo diafragma e funcionar como uma bomba propulsora ajudando a expulsar esse ar com muita velocidade, enquanto inspiramos novamente.
Parece mais complexo do que prático, mas é exatamente o que ocorre. Por isso, deve-se sempre observar a formação das bolhas na água, para ter certeza de que há um fluxo e um contra fluxo na respiração.
Comece sempre depois de inspirar profundamente e observe as bolhas, enchendo gradativamente as bochechas, até uma concentração confortável de ar. Nesse momento, é necessário imaginar que o ar que já está comprimido pelas bochechas deverá ser levado rapidamente ao céu da boca, para que haja a troca, através da nova respiração, o que permite fazer o processo de renovação do ar sem que haja prejuízo para a execução.
A troca é extremamente rápida e necessita de controle do diafragma, que também funciona como propulsor durante o processo de saída do ar, fazendo com que a coluna mantenha-se perfeita para sustentar a nota ao mesmo tempo em que inspiramos.
Após o treino com o copo, água e canudo, passamos para o instrumento. Sempre é bom iniciar com notas no registro médio, mesma região na qual começamos a estudar o sax, trompete, flauta, clarinete, etc.
Andamento lento (semínima=60), tocando semibreves, ligamos duas notas e tentamos aplicar a técnica entre o quarto tempo do primeiro compasso e o primeiro tempo do segundo. Sempre ocorre uma falha na ligação nas primeiras tentativas, o que é perfeitamente compreensível. A prática levará a um nível bem avançado de execução, diminuindo o intervalo entre as trocas de ar.
Aos poucos, começamos a treinar com frases maiores, em diferentes andamentos e divisões rítmicas, sempre legato e aumentando e diminuindo a dinâmica.
O ideal é ouvir uma nota sem emenda com a próxima, como se fosse um órgão ou violino, por exemplo.
Lembre-se que trata-se apenas de um artifício a ser utlizado para dar mais colorido e tornar a música, principalmente trechos mais rápidos e de virtuosismo, sem interrupções e com mais fluidez.
Muitos grandes instrumentistas (a maioria, aliás), nunca utilizaram essa técnica em gravações ou apresentações ao vivo, por não ser de extrema necessidade para os instrumentos de sopro. Porém, entender e dominar uma nova técnica é sempre uma boa perspectiva para o músico e enriquece a sua performance.
Coloco-me a disposição para esclarecer dúvidas e ministrar aulas sobre este assunto pelo email: bentosax@hotmail.com, ou no espaço EBANO-CLASS, onde haverá workshops presenciais sobre técnicas e assuntos relacionados a todos os instrumentos de sopro.



Texto publicado na revista SAX & METAIS, que não está mais em circulação.


Links relacionados:


http://www.youtube.com/watch?v=C4cIEdsqty4
(Dilson Florêncio)




http://www.youtube.com/watch?v=VHU5prfN_4g
(Harry Carney)