segunda-feira, 11 de outubro de 2010

RESPIRAÇÃO CIRCULAR OU CONTÍNUA

Um assunto muito discutido entre os instrumentistas de sopro, porém ainda pouco explorado e divulgado. Assim podemos definir a chamada respiração contínua ou circular.
Talvez o ícone dessa técnica na música popular mais atual seja mesmo o Kenny G, que entrou para o Guinness Book ao sustentar uma mesma nota por um período ultra prolongado durante um show ao vivo. Além dele, temos Harry Carney, sax barítono da lendária orquestra de Duke Ellington, que já utilizava o recurso há décadas.
Instrumentistas de sopro eruditos já conhecem e dominam há muito tempo esse artifício, executando peças como Moto Perpetuo (Paganini), Caprice (Eugene Bozza), entre outras, sem parar para respirar em momento algum, atraindo a atenção e admiração de platéias mundo afora.
A técnica consiste em sustentar a coluna de ar sem interrupções entre a emissão das notas e uma próxima repiração, mantendo uma nota ou trecho de notas sem qualquer variação durante a execução, sem a necessidade de parar para respirar e continuar, como normalmente ocorre.
Uma boa maneira para iniciar o estudo é utilizar um copo com água pela metade e um canudo mais grosso. Não há necessidade de utilizar o instrumento nessa primeira fase.
Iniciamos a prática apenas soprando com o canudo para observar a formação das bolhas na água, que serão muito importantes para saber se a técnica está sendo bem aplicada. (as bolhas não devem parar enquanto sopramos com o canudo e ao inspirar)
Naturalmente, evitamos inflar demasiadamente as bochechas ao praticar o instrumento, porém, nesse caso, será extremamente necessário utilizá-las como uma espécie de concha para armazenar o ar que vem pelo diafragma e funcionar como uma bomba propulsora ajudando a expulsar esse ar com muita velocidade, enquanto inspiramos novamente.
Parece mais complexo do que prático, mas é exatamente o que ocorre. Por isso, deve-se sempre observar a formação das bolhas na água, para ter certeza de que há um fluxo e um contra fluxo na respiração.
Comece sempre depois de inspirar profundamente e observe as bolhas, enchendo gradativamente as bochechas, até uma concentração confortável de ar. Nesse momento, é necessário imaginar que o ar que já está comprimido pelas bochechas deverá ser levado rapidamente ao céu da boca, para que haja a troca, através da nova respiração, o que permite fazer o processo de renovação do ar sem que haja prejuízo para a execução.
A troca é extremamente rápida e necessita de controle do diafragma, que também funciona como propulsor durante o processo de saída do ar, fazendo com que a coluna mantenha-se perfeita para sustentar a nota ao mesmo tempo em que inspiramos.
Após o treino com o copo, água e canudo, passamos para o instrumento. Sempre é bom iniciar com notas no registro médio, mesma região na qual começamos a estudar o sax, trompete, flauta, clarinete, etc.
Andamento lento (semínima=60), tocando semibreves, ligamos duas notas e tentamos aplicar a técnica entre o quarto tempo do primeiro compasso e o primeiro tempo do segundo. Sempre ocorre uma falha na ligação nas primeiras tentativas, o que é perfeitamente compreensível. A prática levará a um nível bem avançado de execução, diminuindo o intervalo entre as trocas de ar.
Aos poucos, começamos a treinar com frases maiores, em diferentes andamentos e divisões rítmicas, sempre legato e aumentando e diminuindo a dinâmica.
O ideal é ouvir uma nota sem emenda com a próxima, como se fosse um órgão ou violino, por exemplo.
Lembre-se que trata-se apenas de um artifício a ser utlizado para dar mais colorido e tornar a música, principalmente trechos mais rápidos e de virtuosismo, sem interrupções e com mais fluidez.
Muitos grandes instrumentistas (a maioria, aliás), nunca utilizaram essa técnica em gravações ou apresentações ao vivo, por não ser de extrema necessidade para os instrumentos de sopro. Porém, entender e dominar uma nova técnica é sempre uma boa perspectiva para o músico e enriquece a sua performance.
Coloco-me a disposição para esclarecer dúvidas e ministrar aulas sobre este assunto pelo email: bentosax@hotmail.com, ou no espaço EBANO-CLASS, onde haverá workshops presenciais sobre técnicas e assuntos relacionados a todos os instrumentos de sopro.



Texto publicado na revista SAX & METAIS, que não está mais em circulação.


Links relacionados:


http://www.youtube.com/watch?v=C4cIEdsqty4
(Dilson Florêncio)




http://www.youtube.com/watch?v=VHU5prfN_4g
(Harry Carney)

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